A QUARTA-VIA - Para além do Demo-liberalismo, do Comunismo e do Fascismo
O Integralismo Lusitano era anti-parlamentar, descentralizador, municipalista e corporativo. Visava libertar os cidadãos da tirania das oligarquias politicantes, restaurando as liberdades nacionais; preconizava um Estado forte que tivesse à cabeça o Rei, o Rei que estando por natureza acima dos partidos fosse o árbitro supremo para quem apelassem com segurança quantos sofressem perseguições e injustiças.
(...)
O Nacional-Sindicalismo é na verdade o Integralismo Lusitano que se ultrapassa em todos os seus aspectos formais. É a Contra-Revolução que para além de si própria se torna Revolução. Assim, o Nacional-Sindicalismo é municipalista mas dá ao município o reforço do novo sentido Social-Económico; é descentralizador, mas especificamente orgânico é Sindicalista e cooperativista, antes de ser corporativista; é populista se bem que reconheça o valor das "élites" - Revolução só é eficaz quando tenha por si o povo.
Rolão Preto in José Plácido Machado Barbosa, Para além da Revolução... A Revolução - Entrevistas com Rolão Preto, Porto, 1940, p. 39.
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O Nacional-Sindicalismo é na verdade o Integralismo Lusitano que se ultrapassa em todos os seus aspectos formais. É a Contra-Revolução que para além de si própria se torna Revolução. Assim, o Nacional-Sindicalismo é municipalista mas dá ao município o reforço do novo sentido Social-Económico; é descentralizador, mas especificamente orgânico é Sindicalista e cooperativista, antes de ser corporativista; é populista se bem que reconheça o valor das "élites" - Revolução só é eficaz quando tenha por si o povo.
Rolão Preto in José Plácido Machado Barbosa, Para além da Revolução... A Revolução - Entrevistas com Rolão Preto, Porto, 1940, p. 39.
Baseando-se em princípios que estabelecera ao publicar A Monarquia é a Restauração da Inteligência (1920), uma Quarta-Via, personalista e comunitária, virá a ser apresentada por Rolão Preto no livro Justiça! (1936).
O Integralismo Lusitano, enquanto movimento de ideias políticas, nasceu em Abril de 1914. Após a revolução bolchevique na Rússia, em 1917, e até ao início dos anos de 1930, o pensamento político dos integralistas representava em Portugal uma "terceira-via", em defesa de uma descentralização e de uma representação dos municípios, profissões e sectores de actividade no Estado. No essencial, os integralistas rejeitavam os dois estatismos centralistas e oligárquicos dos inícios do século XX: nem domínio do Estado por grupos de políticos organizados em partidos; nem domínio do Estado por políticos organizados num único partido propondo-se realizar a "socialização dos meios de produção, circulação e consumo" para se atingir no futuro "o comunismo" (marxismo-leninismo).
Em 1915, Benito Mussolini criou os Fasci di azione revoluzionaria, juntando socialistas revolucionários e sindicalistas, na luta pela intervenção da Itália na guerra ao lado dos Aliados contra os Impérios Centrais. Esses fasci foram criados em ruptura com a neutralidade do Partido Socialista Italiano, abrindo também uma brecha no socialismo internacionalista da luta de classes (marxismo), inspirando a formação de um socialismo nacional.
Após a guerra, em 1919, Mussolini criou os Fasci di combattimento, como movimento de ação, agitação e propaganda, destinado a combater tanto a resistência à mudança dos políticos conservadores, como as ambições políticas de socialistas inspirados na triunfante revolução bolchevique. O futurismo russo de Vladimir Maiakovski, alinhava com o bolchevismo leninista, enquanto o futurismo italiano de Filippo Marinetti alinhava com os fasci, defendendo também propostas anti-monárquicas e anti-clericais (o Papa devia ser expulso de Roma). A "política de massas" então definida por Mussolini, no entanto, propunha-se orientar os italianos sobretudo para uma "democracia económica" (reivindicações da classe trabalhadora em matéria de trabalho, pensões, controle sobre as indústrias, com capacidades diretivas e de gestão) e uma "democracia política" (com uma participação mais direta dos cidadãos na vida pública, com a legislação e o governo confiados a "competências técnicas" eleitas por organizações profissionais e associações de cultura, etc.).
O fascio de Milão, foi estabelecido em 23 de Março de 1919, tendo Mussolini proclamado - "Aceitaremos e promoveremos tudo o que beneficie a nação". Seria um socialismo nacional, contrastante com o socialismo internacionalista do leninismo. Outros fasci se reuniram em Génova, Turim, Verona, Bérgamo, Treviso, Pavia, Cremona, Nápoles, Brescia, Trieste. Nas eleições de Novembro, o fascio de Milão, com Mussolini à frente, não foi além de alguns milhares de votos. Entre 1919 e parte de 1920, os socialistas inspirados pela revolução bolchevique desencadeiam uma larga ofensiva com greves industriais, greves agrícolas, greves de serviços públicos, greves gerais. Em Setembro de 1920, houve a ocupação de fábricas, com má gestão, violência, roubos, culminando em pânico no mundo dos negócios e fuga de capitais. Nas áreas rurais, manifestações e invasões e ocupações de terras, especialmente no Sul, mas o extremo ocorreu na região baixa de Ferrara e Bolonha, tornando a vida impossível para os proprietários, cercados, ameaçados nas suas pessoas, no gado, nas colheitas. Houve também assaltos aos municípios, querendo abolir o Estado e a monarquia com as suas leis e símbolos. O governo não enfrentou essa ofensiva. Os fasci, que até aí não tinham feito grandes progressos e pouco tinham saído dos centros urbanos, começam então a encontrar apoio popular nas áreas rurais em que se reagia contra as acções dos socialistas de inspiração bolchevique. Nas eleições de Maio de 1921, a vitória eleitoral dos fasci foi como que um primeiro passo do que depois se tornará a "marcha sobre Roma".
Nesse ano de 1921, tornava-se visível que a revolução bolchevique e a guerra civil estavam a conduzir a Rússia para um desastre económico e social com a fome matando milhões de pessoas (como seria revelado por Fridtjof Nansen), mas em Itália e em geral no Ocidente europeu, a derrocada liberal-democrática era também evidente, em regimes parlamentaristas estruturalmente corruptos, com forte inflação, desemprego, e a ruína das classes médias.
Em finais de 1921, os fasci transformam-se em Partido Nacional Fascista visando a conquista do poder em Itália. Nessa nova arrancada, Mussolini não tem ainda definida uma doutrina, mas diz querer instituir uma "democracia autoritária". Atingirá o poder no ano seguinte, dando alento ao que se designou por um período de “revoluções nacionalistas” na Europa.
As leis e os institutos fundamentais do Estado Fascista, só ficarão estabelecidos na segunda metade da década de 1920 - em 1926, 27 e 28. Ao arrepio de futuristas como Marinetti, pelo tratado de Latrão, em 1929, Mussolini permite a criação do Estado do Vaticano em Roma. Não durou muito a trégua com a Igreja Católica. Em Junho de 1931, perante a dissolução das associações católicas de jovens em Itália, o papa Pio XI, através da Encíclica Non abbiamo bisogno, condenou o Fascismo, denunciando a existência de “um partido, um regime, com base numa ideologia que resulta abertamente numa verdadeira estatolatria pagã”. Em 1932, em artigo da Enciclopédia Italiana, com a colaboração de Mussolini, a doutrina do Estado do Fascismo surge claramente definida como totalitária.
O nacionalismo italiano vinha de Gioberti até Mazzini, Carducci, Oriani e D'Annunzio, atingindo, em 1914, a síntese da "nação proletária" com Enrico Corradini (1896-1931) ao publicar Il Nazionalismo Italiano. A Itália era uma criação do nacionalismo revolucionário da segunda metade do século XIX, sendo um Estado ainda muito recente e inseguro, pedindo autoridade para evitar a desintegração, e uma capacidade militar capaz de lhe assegurar um Risorgimento e uma nova fase de poder e de prestígio na Europa. Esse nacionalismo pagava algum tributo a estatistas como Napoleão (devendo-lhe a Lombardia) e Bismarck (sem o apoio do quem talvez não tivessem Veneza, em 1866, e entrado em Roma, em 1870). Tal como Mussolini, Corradini defendera a entrada da Itália na Guerra contra os Impérios Centrais, vindo a apoiar, em 1923, a fusão entre a Associação Nacionalista Italiana e o Partido Nacional Fascista. O nacionalismo italiano tinha uma matriz autoritário-cesarista, militarista e imperialista. A invasão da Abissínia pela Itália de Mussolini ocorrerá em 1935.
Numa década, do início dos anos 20 até à entrada dos anos 30, o socialismo nacionalista de Mussolini evoluíra para um rigoroso totalitarismo estatal mas, no resto da Europa, havia nacionalismos defendendo e permanecendo em defesa de outras, e bem contrastantes, doutrinas políticas.
A França, por exemplo, após quase um século e meio de tranquilidade e de hegemonia na Europa, fora conduzida para a guerra pela Revolução de 1789 e por Napoleão, de que resultaram cinco invasões: em 1793, 1814, 1815, 1870, e em 1914. A Revolução decapitara o rei e fora centralista; a tirania de Napoleão construíra uma vasta máquina burocrática, deixando as pessoas indefesas face ao Estado. Em Dezembro de 1926, o neo-monarquismo da Action française foi condenado pelo Papa Pio XI, mas o restante nacionalismo francês continuou também pedindo sobretudo a paz, a descentralização política e as liberdades.
O nacionalismo português, expresso através do Integralismo Lusitano, tinha desde a origem um ideário anti-oligárquico, descentralizador e municipalista, de olhos postos no exemplo da estreita aliança entre o Rei e as Comunas urbanas e os Concelhos rurais da Revolução de 1383-85. Os integralistas definiam-se como nacionalistas (do patriotismo era dever subir ao nacionalismo, para defesa da pátria em perigo) mas também como universalistas, de obediência católica romana. O triunfo do fascismo em Itália viera dar alento às revoluções nacionalistas na Europa, pelo que não deixara de ser acolhido em Portugal com esperança. Nas hostes integralistas, porém, dado o seu universalismo, houve também imediata inquietação entre os seus dirigentes. Escrevia António Sardinha, em 1923, no prefácio de Ao princípio era o Verbo: "Urge que, na floresta espessa dos mitos e superstições dominantes, nos não abandonemos cegamente ao encanto bárbaro da aspiração nacionalista. Acentuamos "encanto bárbaro", porque, na sua ansia impetuosa há na aspiração nacionalista que desvaira a Europa uma força de agressividade primitiva, - um total olvido da harmonia que é imperioso restabelecer nas relações dos povos, como assento sólido da Cidade-de-Deus”.
Após o 28 de Maio de 1926, para os integralistas da sua Junta Central, a insegurança portuguesa estava sobretudo na frente interna, temendo-se a reacção da anti-nação, dos estrangeiros do interior que, em mais de um século de domínio oligárquico do Estado, tinham conduzido Portugal para a corrupta "balbúrdia sanguinolenta" da 1ª República.
Em Março de 1932, foi divulgado o projecto constitucional do Estado Novo, de Oliveira Salazar, onde se retomava o projecto híbrido do grupo da Seara Nova - Câmara de Partidos e Câmara Corporativa - mas onde se viria também a revelar uma forte influência do fascismo, tanto no modelo do partido único como no pseudo-sindicalismo do seu Corporativismo de Estado.
A clarificação de Mussolini acerca da sua doutrina totalitária do Estado, na Enciclopédia Italiana, vinha colidir frontalmente com o municipalismo e o projecto descentralizador dos integralistas, que sempre tinham defendido uma restauração da República portuguesa através de livres e directas representações municipais e sindicais no Estado. Em Janeiro de 1933, sem margem para dúvida, Rolão Preto demarcou-se do "estatismo divinizador do Estado cesarista", tanto do fascismo como do hitlerismo, este último então em fulgurante ascensão eleitoral; em 1934, a demarcação de Rolão Preto foi em relação ao Estado Novo, precisamente no que este adoptara do modelo estatista do fascismo italiano.
Em Portugal, passavam então a existir ou a ecoar quatro vias - quatro doutrinas ou teorias políticas: (1) o demo-liberalismo das oligarquias partidistas; (2) a ditadura (do partido) do proletariado dos marxistas-leninistas; (3) o estatismo totalitário dos fascistas; e (4), o municipalismo e sindicalismo do Integralismo Lusitano.
Em alternativa às três vias estatistas e oligárquicas, saídas do pensamento político da Revolução (1789), os integralistas Rolão Preto e Alberto de Monsaraz propõem-se realizar, através do Movimento Nacional-Sindicalista, uma Revolução, para além da Revolução (1789)... Defendiam uma Revolução personalista e comunitária, retomando a trilogia que Rolão Preto apresentara em 1920: Solidariedade, Mutualidade, Justiça.
A doutrina apresentada por Rolão Preto no livro Justiça! (1936), surge em linha com a então recente reacção personalista e antitotalitária da revista Esprit, fazendo expressa referência à Revolução preconizada por Emmanuel Mounier (Révolution personnaliste et communautaire, 1935).
Anos depois, na iminência da II Grande Guerra, essa quarta-via surgiu sintetizada por Rolão Preto em entrevista a Plácido Barbosa (Para além da Revolução... A Revolução, Porto, 1940). Em 27 de Junho de 1975, na Soalheira, em entrevista a João Medina - "Não, não e não" - foi ainda com essas palavras que Rolão Preto concluiu o seu depoimento: "para além da Revolução, a Revolução."
A via personalista e comunitária aberta em Portugal pelo Integralismo Lusitano, irá continuar no cerne do pensamento político de vários dos seus discípulos reconhecidos nas décadas seguintes, como em Mário Saraiva (1910-1998) no livro Outra Democracia (1983) ou em António Jacinto Ferreira (1906-1995) em Poder Local e Corpos Intermédios (1987).
[29 de Abril de 2024, J. M. Q.]
Refs
O Integralismo Lusitano, enquanto movimento de ideias políticas, nasceu em Abril de 1914. Após a revolução bolchevique na Rússia, em 1917, e até ao início dos anos de 1930, o pensamento político dos integralistas representava em Portugal uma "terceira-via", em defesa de uma descentralização e de uma representação dos municípios, profissões e sectores de actividade no Estado. No essencial, os integralistas rejeitavam os dois estatismos centralistas e oligárquicos dos inícios do século XX: nem domínio do Estado por grupos de políticos organizados em partidos; nem domínio do Estado por políticos organizados num único partido propondo-se realizar a "socialização dos meios de produção, circulação e consumo" para se atingir no futuro "o comunismo" (marxismo-leninismo).
Em 1915, Benito Mussolini criou os Fasci di azione revoluzionaria, juntando socialistas revolucionários e sindicalistas, na luta pela intervenção da Itália na guerra ao lado dos Aliados contra os Impérios Centrais. Esses fasci foram criados em ruptura com a neutralidade do Partido Socialista Italiano, abrindo também uma brecha no socialismo internacionalista da luta de classes (marxismo), inspirando a formação de um socialismo nacional.
Após a guerra, em 1919, Mussolini criou os Fasci di combattimento, como movimento de ação, agitação e propaganda, destinado a combater tanto a resistência à mudança dos políticos conservadores, como as ambições políticas de socialistas inspirados na triunfante revolução bolchevique. O futurismo russo de Vladimir Maiakovski, alinhava com o bolchevismo leninista, enquanto o futurismo italiano de Filippo Marinetti alinhava com os fasci, defendendo também propostas anti-monárquicas e anti-clericais (o Papa devia ser expulso de Roma). A "política de massas" então definida por Mussolini, no entanto, propunha-se orientar os italianos sobretudo para uma "democracia económica" (reivindicações da classe trabalhadora em matéria de trabalho, pensões, controle sobre as indústrias, com capacidades diretivas e de gestão) e uma "democracia política" (com uma participação mais direta dos cidadãos na vida pública, com a legislação e o governo confiados a "competências técnicas" eleitas por organizações profissionais e associações de cultura, etc.).
O fascio de Milão, foi estabelecido em 23 de Março de 1919, tendo Mussolini proclamado - "Aceitaremos e promoveremos tudo o que beneficie a nação". Seria um socialismo nacional, contrastante com o socialismo internacionalista do leninismo. Outros fasci se reuniram em Génova, Turim, Verona, Bérgamo, Treviso, Pavia, Cremona, Nápoles, Brescia, Trieste. Nas eleições de Novembro, o fascio de Milão, com Mussolini à frente, não foi além de alguns milhares de votos. Entre 1919 e parte de 1920, os socialistas inspirados pela revolução bolchevique desencadeiam uma larga ofensiva com greves industriais, greves agrícolas, greves de serviços públicos, greves gerais. Em Setembro de 1920, houve a ocupação de fábricas, com má gestão, violência, roubos, culminando em pânico no mundo dos negócios e fuga de capitais. Nas áreas rurais, manifestações e invasões e ocupações de terras, especialmente no Sul, mas o extremo ocorreu na região baixa de Ferrara e Bolonha, tornando a vida impossível para os proprietários, cercados, ameaçados nas suas pessoas, no gado, nas colheitas. Houve também assaltos aos municípios, querendo abolir o Estado e a monarquia com as suas leis e símbolos. O governo não enfrentou essa ofensiva. Os fasci, que até aí não tinham feito grandes progressos e pouco tinham saído dos centros urbanos, começam então a encontrar apoio popular nas áreas rurais em que se reagia contra as acções dos socialistas de inspiração bolchevique. Nas eleições de Maio de 1921, a vitória eleitoral dos fasci foi como que um primeiro passo do que depois se tornará a "marcha sobre Roma".
Nesse ano de 1921, tornava-se visível que a revolução bolchevique e a guerra civil estavam a conduzir a Rússia para um desastre económico e social com a fome matando milhões de pessoas (como seria revelado por Fridtjof Nansen), mas em Itália e em geral no Ocidente europeu, a derrocada liberal-democrática era também evidente, em regimes parlamentaristas estruturalmente corruptos, com forte inflação, desemprego, e a ruína das classes médias.
Em finais de 1921, os fasci transformam-se em Partido Nacional Fascista visando a conquista do poder em Itália. Nessa nova arrancada, Mussolini não tem ainda definida uma doutrina, mas diz querer instituir uma "democracia autoritária". Atingirá o poder no ano seguinte, dando alento ao que se designou por um período de “revoluções nacionalistas” na Europa.
As leis e os institutos fundamentais do Estado Fascista, só ficarão estabelecidos na segunda metade da década de 1920 - em 1926, 27 e 28. Ao arrepio de futuristas como Marinetti, pelo tratado de Latrão, em 1929, Mussolini permite a criação do Estado do Vaticano em Roma. Não durou muito a trégua com a Igreja Católica. Em Junho de 1931, perante a dissolução das associações católicas de jovens em Itália, o papa Pio XI, através da Encíclica Non abbiamo bisogno, condenou o Fascismo, denunciando a existência de “um partido, um regime, com base numa ideologia que resulta abertamente numa verdadeira estatolatria pagã”. Em 1932, em artigo da Enciclopédia Italiana, com a colaboração de Mussolini, a doutrina do Estado do Fascismo surge claramente definida como totalitária.
O nacionalismo italiano vinha de Gioberti até Mazzini, Carducci, Oriani e D'Annunzio, atingindo, em 1914, a síntese da "nação proletária" com Enrico Corradini (1896-1931) ao publicar Il Nazionalismo Italiano. A Itália era uma criação do nacionalismo revolucionário da segunda metade do século XIX, sendo um Estado ainda muito recente e inseguro, pedindo autoridade para evitar a desintegração, e uma capacidade militar capaz de lhe assegurar um Risorgimento e uma nova fase de poder e de prestígio na Europa. Esse nacionalismo pagava algum tributo a estatistas como Napoleão (devendo-lhe a Lombardia) e Bismarck (sem o apoio do quem talvez não tivessem Veneza, em 1866, e entrado em Roma, em 1870). Tal como Mussolini, Corradini defendera a entrada da Itália na Guerra contra os Impérios Centrais, vindo a apoiar, em 1923, a fusão entre a Associação Nacionalista Italiana e o Partido Nacional Fascista. O nacionalismo italiano tinha uma matriz autoritário-cesarista, militarista e imperialista. A invasão da Abissínia pela Itália de Mussolini ocorrerá em 1935.
Numa década, do início dos anos 20 até à entrada dos anos 30, o socialismo nacionalista de Mussolini evoluíra para um rigoroso totalitarismo estatal mas, no resto da Europa, havia nacionalismos defendendo e permanecendo em defesa de outras, e bem contrastantes, doutrinas políticas.
A França, por exemplo, após quase um século e meio de tranquilidade e de hegemonia na Europa, fora conduzida para a guerra pela Revolução de 1789 e por Napoleão, de que resultaram cinco invasões: em 1793, 1814, 1815, 1870, e em 1914. A Revolução decapitara o rei e fora centralista; a tirania de Napoleão construíra uma vasta máquina burocrática, deixando as pessoas indefesas face ao Estado. Em Dezembro de 1926, o neo-monarquismo da Action française foi condenado pelo Papa Pio XI, mas o restante nacionalismo francês continuou também pedindo sobretudo a paz, a descentralização política e as liberdades.
O nacionalismo português, expresso através do Integralismo Lusitano, tinha desde a origem um ideário anti-oligárquico, descentralizador e municipalista, de olhos postos no exemplo da estreita aliança entre o Rei e as Comunas urbanas e os Concelhos rurais da Revolução de 1383-85. Os integralistas definiam-se como nacionalistas (do patriotismo era dever subir ao nacionalismo, para defesa da pátria em perigo) mas também como universalistas, de obediência católica romana. O triunfo do fascismo em Itália viera dar alento às revoluções nacionalistas na Europa, pelo que não deixara de ser acolhido em Portugal com esperança. Nas hostes integralistas, porém, dado o seu universalismo, houve também imediata inquietação entre os seus dirigentes. Escrevia António Sardinha, em 1923, no prefácio de Ao princípio era o Verbo: "Urge que, na floresta espessa dos mitos e superstições dominantes, nos não abandonemos cegamente ao encanto bárbaro da aspiração nacionalista. Acentuamos "encanto bárbaro", porque, na sua ansia impetuosa há na aspiração nacionalista que desvaira a Europa uma força de agressividade primitiva, - um total olvido da harmonia que é imperioso restabelecer nas relações dos povos, como assento sólido da Cidade-de-Deus”.
Após o 28 de Maio de 1926, para os integralistas da sua Junta Central, a insegurança portuguesa estava sobretudo na frente interna, temendo-se a reacção da anti-nação, dos estrangeiros do interior que, em mais de um século de domínio oligárquico do Estado, tinham conduzido Portugal para a corrupta "balbúrdia sanguinolenta" da 1ª República.
Em Março de 1932, foi divulgado o projecto constitucional do Estado Novo, de Oliveira Salazar, onde se retomava o projecto híbrido do grupo da Seara Nova - Câmara de Partidos e Câmara Corporativa - mas onde se viria também a revelar uma forte influência do fascismo, tanto no modelo do partido único como no pseudo-sindicalismo do seu Corporativismo de Estado.
A clarificação de Mussolini acerca da sua doutrina totalitária do Estado, na Enciclopédia Italiana, vinha colidir frontalmente com o municipalismo e o projecto descentralizador dos integralistas, que sempre tinham defendido uma restauração da República portuguesa através de livres e directas representações municipais e sindicais no Estado. Em Janeiro de 1933, sem margem para dúvida, Rolão Preto demarcou-se do "estatismo divinizador do Estado cesarista", tanto do fascismo como do hitlerismo, este último então em fulgurante ascensão eleitoral; em 1934, a demarcação de Rolão Preto foi em relação ao Estado Novo, precisamente no que este adoptara do modelo estatista do fascismo italiano.
Em Portugal, passavam então a existir ou a ecoar quatro vias - quatro doutrinas ou teorias políticas: (1) o demo-liberalismo das oligarquias partidistas; (2) a ditadura (do partido) do proletariado dos marxistas-leninistas; (3) o estatismo totalitário dos fascistas; e (4), o municipalismo e sindicalismo do Integralismo Lusitano.
Em alternativa às três vias estatistas e oligárquicas, saídas do pensamento político da Revolução (1789), os integralistas Rolão Preto e Alberto de Monsaraz propõem-se realizar, através do Movimento Nacional-Sindicalista, uma Revolução, para além da Revolução (1789)... Defendiam uma Revolução personalista e comunitária, retomando a trilogia que Rolão Preto apresentara em 1920: Solidariedade, Mutualidade, Justiça.
A doutrina apresentada por Rolão Preto no livro Justiça! (1936), surge em linha com a então recente reacção personalista e antitotalitária da revista Esprit, fazendo expressa referência à Revolução preconizada por Emmanuel Mounier (Révolution personnaliste et communautaire, 1935).
Anos depois, na iminência da II Grande Guerra, essa quarta-via surgiu sintetizada por Rolão Preto em entrevista a Plácido Barbosa (Para além da Revolução... A Revolução, Porto, 1940). Em 27 de Junho de 1975, na Soalheira, em entrevista a João Medina - "Não, não e não" - foi ainda com essas palavras que Rolão Preto concluiu o seu depoimento: "para além da Revolução, a Revolução."
A via personalista e comunitária aberta em Portugal pelo Integralismo Lusitano, irá continuar no cerne do pensamento político de vários dos seus discípulos reconhecidos nas décadas seguintes, como em Mário Saraiva (1910-1998) no livro Outra Democracia (1983) ou em António Jacinto Ferreira (1906-1995) em Poder Local e Corpos Intermédios (1987).
[29 de Abril de 2024, J. M. Q.]
Refs
- 1920 - Francisco Rolão Preto - A Monarquia é a Restauração da Inteligência.
- 1931 - A Encíclica Non Abbiamo Bisogno, do papa Pio XI, declarou a respeito do Fascismo: “um partido, um regime, com base numa ideologia que resulta abertamente numa verdadeira estatolatria pagã” [www.vatican.va/content/pius-xi/it/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19310629_non-abbiamo-bisogno.html ]
- 1932 - Benito Mussolini e Gioacchino Volpe - Fascismo [português] [Original, em italiano: https://www.treccani.it/enciclopedia/fascismo_%28Enciclopedia-Italiana%29/]
- 1935 - Emmanuel Mounier - Révolution personnaliste et communautaire.
- 1936 - Francisco Rolão Preto - Justiça!
- 1940 - Francisco Rolão Preto - Para além da Revolução... A Revolução [entrevistas com Plácido Barbosa]
CRONOLOGIA
1920
1921
1929
1934 - O ANO DA OFENSIVA TOTALITÁRIA (na Alemanha e em Portugal).
1935
1960
1983
1987
1920
- 1920 - Francisco Rolão Preto - A Monarquia é a Restauração da Inteligência. Sob o título "A Monarquia Sindical" foram apresentados os XII Princípios da Produção, ponto de partida da doutrina do Nacional-Sindicalismo:
I. Negamos que a organização social possa ter por base o indivíduo.
II. Negamos a dissociação dos elementos de produção nacional, isto é, negamos a existência isolada das classes, artificio que põe em litígio as componentes necessários de um mesmo todo.
III. Negamos a solidariedade do proletariado universal, por cima e contra as fronteiras sagradas da nação.
IV. Condenamos a liberdade de trabalho, a livre concorrência, a liberdade de comércio, por contrárias à Produção. Não consideramos direitos sem obrigações.
V. Condenamos a centralização democrática, o monopólio parlamentar e toda a acção das assembleias políticas sobre a gestão e dinâmica da Produção.
VI. Condenamos toda a organização de produtores que não seja pura e nitidamente profissional.
VII. Afirmamos que a Família é a célula primária da sociedade.
VIII. Afirmamos que a Produção é o conjunto dinâmico (orgânico) das suas três partes essenciais: capital, dirigentes e operários.
IX. Afirmamos que o «grupo económico» (Sindicato, Corporação, Oficio, etc.), é a base da Produção.
X. Proclamamos o Rei (mais tarde, após a criação do MNS, será "o Estado", como na versão espanhola), chefe da produção nacional e a obrigatoriedade do trabalho que neste momento assiste a todos os Portugueses.
XI. Proclamamos a propriedade um direito sagrado, por interesse nacional e por interesse da Produção.
XII. Proclamamos a «Nação eterna», razão primeira da nossa existência social; a Nação viva e activa, através da cor específica da «Província», da «Região» e do «grupo económico». Em suma, nem luta de classes (marxismo), nem colaboração de classes (neo-democratismo), mas sim Sindicalismo Orgânico - Solidariedade, Mutualidade, Justiça. - 1920-10-11 - Surge, com a direcção de Luís Chaves, A Ideia Nacional - Semanário Monárquico-Sindicalista: Augusto da Costa, "Quando o bolchevismo passar", A Ideia Nacional, 11 de Outubro de 1920, p. 1 . -"os operários sabem bem que a republica só lhes deu, além dos direitos que a monarquia constitucional lhes dava, tiros, perseguições, atentados e vexames."
- 1920-10-17 - A Ideia Nacional, Ano 1, nº I, 17 de Outubro de 1920, com novo grafismo - a "Cruz de Cristo" e uma citação de Valois no cabeçalho: "Sindicalistas, façamos a nossa obra de sindicalistas. Expulsemos os oradores da Democracia e os agentes do governo. Fora os políticos!" - Georges Valois. Em destaque:
"O que a opinião pública reclama do Governo: Liberdade de reunião, de associação e de pensamento;
Revogação de todos os decretos de ditadura;
Abolição completa das leis de excepção;
Amnistia aos presos políticos e exilados.
Isto que "O Mundo" exigia em nome dos republicanos, em seguida à morte de El-Rei D. Carlos e de S. A. R. o Principe D. Luís Filipe, - exigimo-lo nós a 620 dias da revolta de Monsanto!
Abaixo a tirania! Viva a Nação!"
1921
- 1921-03-06 - Fundação do Partido Comunista Português (PCP), de inspiração marxista-leninista, propondo-se realizar, por via de uma acção revolucionária, a "socialização dos meios de produção, circulação e consumo, isto é, a transformação radical da sociedade capitalista em sociedade comunista". No ano seguinte estabelecerá contactos com a Internacional Comunista (Comintern) tornando-se, em 1923, a sua secção portuguesa.
- 1922-04 - 2º Congresso do Centro Católico, no qual se destacou Oliveira Salazar, de que fora deputado por Guimarães. Salazar advoga a política de conciliação dos católicos com a República. O papa Bento XV viera reforçar essa perspectiva. Salazar voltará a advogar a sua tese em 1924 no 1º Congresso Eucarístico Nacional, em Braga. No jornal A Época, Fernando de Sousa (Nemo), Domingos Pinto Coelho, Alfredo Pimenta, criticam essa perspectiva.
- No prefácio de "Ao Princípio era o Verbo" (pp. ix-xxii), António Sardinha distingue três espécies de nacionalismo: (1) o nacionalismo “da sôfrega dilatação que, de nacionalismo, se torna depressa em perturbadora exaltação imperialista” (o Fascismo triunfara recentemente em Roma); (2) o nacionalismo que, a exemplo da Suíça, quer ser “placa giratória” da Europa, e “não ambiciona para Portugal outras vantagens que não sejam as de um turismo promissor e condescendente”; e (3) o "nacionalismo esclarecido pelo tradicionalismo" - o seu nacionalismo - que identifica como "católico romano", apto a “reconstruir uma ordem internacional em que todas as pátrias, pequenas ou grandes, se achem naturalmente enlaçadas por uma finalidade comum.” (p. xvi)
- Perante o recente triunfo de Benito Mussolini em Itália, em "Mais longe ainda...", António Sardinha assinala nele uma "febre nacionalista" com algo de misterioso - eram “as primeiras estrofes de um ritmo que ainda de leve se entende”, mas acrescenta que lhe falta “o sentido orgânico de uma doutrina” - referindo-o por duas vezes neste texto e colocando a palavra “doutrina” em itálico. Apesar disso, não deixa de saudar com otimismo o seu triunfo por ver nele uma prova de que a decadência do Ocidente latino, vaticinada pelos germânicos Oswald Spengler e conde de Keyserling, não se estava a materializar. O seu entusiasmo em torno da ideia de um Chefe, não devia ser entendido como uma subordinação à “simples imposição materialista de qualquer pretoriano, mordido de cesarite aguda”. O triunfo de Mussolini em Itália e de Miguel Primo de Rivera em Espanha, não sendo a vitória do "sentido orgânico duma doutrina" - que faltava a ambos - era entendido como “uma soberba e convincente demonstração (...) de que o Ocidente não morreu...”. ("Mais longe ainda... (1923) in “A Prol do Comum..." - Doutrina e História, Lisboa, Livraria Ferin, 1934, pp. 253-266).
- 1925-04-01 - "Os crimes do Fascismo - O Ditador Mussolini cúmplice no assassínio de Matteoti" e "Protesto contra as violências fascistas" (acerca das "devastações" cometidas pelos fascistas nas sedes das associações católicas), A Capital - diário republicano da noite, nº 4895, p. 1. (1925-04-acapitaln4895a4920.pdf)
- 1925-04-15 - "Tem o PRP um programa? Efectivamente tem. Mas programas são papéis e os papéis têm utilidade sanitária. (...) Raios me partam se isto não é uma República de pesadelo!", "Voz no deserto", A Capital - diário republicano da noite, nº 4907, p. 1.
- 1925-04-18 - "Revolta dos Generais" - "Rolão Preto foi um dos que mais trabalhou na preparação do Movimento Nacional de 18 de Abril, verdadeiro antecessor do 28 de Maio. Foi ele quem levou o comandante Filomeno da Câmara, velho republicano, a imbuir-se das ideias integralistas e quase chegou a ver satisfeita a sua vontade de o ter como presidente da Junta Central do Integralismo Lusitano... / As primeiras linhas do plano que haviam de conduzir ao 18 de Abril, movimento esse cheio de beleza, de nobreza e de lealdade, foram estabelecidas numa reunião na casa do doutor José Pequito Rebelo, onde Filomeno da Câmara foi levado pelo senhor Dr. Rolão Preto. / O próprio Sinel de Cordes aquiesceu a dar o seu nome para o comando dessa revolução militar pela persistência com que no seu gabinete de trabalho, o senhor doutor Rolão Preto usou para o demover da sua apatia e da sua indiferença. (in José Plácido Barbosa, Para além da revolução... a revolução, 1940, p. 108.)
- 1925-07-19 - O Comandante Mendes Cabeçadas põe em revolta o cruzador "Vasco da Gama" - "Estado de Sítio".
- 1925-11 - Francisco Rolão Preto - A política Social da Monarquia Orgânica: Sete anos depois do Sidonismo, a questão social está por fim colocada e por culpa do regime parlamentar: vingou o regime dos financeiros sem escrúpulos; fizeram-se fortunas à sombra dos governos; surgiram inúmeras clientelas de novos ricos com a protecção dos "carimbos mágicos dos ministérios". Além da corrupção instalada, tem havido também uma forte desvalorização da moeda. O marxismo parece ter a solução, isto é, ser ele "o verdadeiro herdeiro desta república de burocratas sem escrúpulos." "O que é o marxismo? Politicamente, é uma burla; socialmente, uma farsa sangrenta. A democracia social reclamada pelo Marxismo é a democracia política aplicada ao trabalho. Seria a ruína. Aplique-se a democracia nas unidades de produção e o resultado saltará à vista: caos, luta civil, miséria. "O comunismo, instaurado na Hungria com Bela Kun, fez baixar a Produção nacional a 55% do que era antes da Guerra; mas sobretudo na Russia, pela duração da experiência, os resultados são mais concludentes e pavorosos. Segundo o dr. Nanssen, membro da comissão americana, que visitou a Russia, o número de mortos pela fome atinge, em 3 anos de martírio bolchevista, a cifra horrível de 9 milhões. Na Russia, segundo os cálculos mais optimistas, a Produção nacional baixou a 25 % da dantes da Guerra. Também hoje a classe operaria russa pode-se dizer, como o afirmou Spinasse, em polémica com o chefe comunista Cachin, «que é a mais miserável da Europa» e que «o operariado russo é a grande vitima do bolchevismo». (p. 237). / "Urge acudir à nação em perigo. Como? Implantando a Monarquia Social. Desde já com as armas na mão? Não. A revolta é uma consequencia; virá no momento oportuno. O que se apresenta necessário em primeiro lugar é fazê-la no espirito, espalhando as boas ideias"
- 1926-05-17 - O diário católico Novidades, nº 9307, in "Soldo ou Justiça", deplorava a ideia de uma revolução militar: "Como se pode esperar que as espadas ordenem a vida portuguesa?" (Nas últimas eleições, o Centro Católico colaborara em vários círculos com o Partido Democrático - o que lhes convinha era a "ordem e a paz").
- 1926-05-28 - Início da revolta do general Gomes da Costa em Braga. Francisco Rolão Preto teve papel decisivo na preparação e execução do movimento, sendo depois o director efectivo do órgão do general Gomes da Costa - Revolução Nacional. A direcção aparente era a de Armando Pinto Correia, ajudante do general, mas era Rolão Preto o director efectivo, assinando com os pseudónimos de "Plures" e "Pluribus" ((in José Plácido Barbosa, Para além da revolução... a revolução, 1940, pp. 108-109.)
- 1926-06-15 - O Integralismo Lusitano suspende a reivindicação política monárquica. A "Nota oficiosa do Integralismo Lusitano" foi publicada na sequência da apresentação do plano de acção governamental e constitucional pelo general Gomes da Costa no Conselho de Ministros de 14 de Junho de 1926, no qual se defendia um modelo de governo presidencialista e uma representação nacional por delegação directa do municípios, excluindo-se a representação ideológico-partidária (parlamentarismo). O general Gomes da Costa foi preso e deportado para os Açores menos de um mês depois, em 9 de Julho. Quem pretender captar o “espírito da revolução de 28 de Maio” protagonizado pelo general Gomes da Costa – um “espírito” depois invocado por políticos e militares dos mais diversos quadrantes -, não poderá deixar de considerar, além dos apelos e pronunciamentos de 28 de Maio e 1 de Junho, o «programa de acção» que ele apresentou na sessão do Conselho de Ministros de 14 de Junho de 1926. Publicado nos matutinos do dia 15, em lugar de destaque no diário A Época, ali ficaram registados os propósitos que vieram a desencadear a agitação e os graves receios entre os Chefes militares da Ditadura que, menos de um mês volvido, viriam a aprisionar e deportar para os Açores o general Gomes da Costa. O “programa de governo” de Gomes da Costa era da conta de um republicano presidencialista, Henrique Trindade Coelho, mas a substância política do modelo de representação a instaurar, era também da responsabilidade de três monárquicos da Junta Central do Integralismo Lusitano: Hipólito Raposo, Pequito Rebelo e Afonso Lucas. Eis o testemunho de Hipólito Raposo (Folhas do Meu Cadastro, Volume II (1926-1952), Lisboa, 1986, pp. 14-16) a este respeito: “O Movimento Militar de 28 de Maio de 1926 não tivera programa de governo, em cujos termos previamente estivessem de acordo os seus dirigentes. (...) Todos sabiam o que não queriam, mas poucos teriam plena consciência do que seria preciso fazer para libertar a Nação de um signo de sacrifício e vilipêndio. (...) Junto do general (Gomes da Costa), muitas vozes de militares e civis representavam a necessidade de revelar ao País, alvoroçado e confiante, os planos do Exército.”/ “Henrique Trindade Coelho era então director de O Século e pessoa da maior confiança de Gomes da Costa./ “Na noite de 13 de Junho, após uma conferência que tiveram ambos, Trindade Coelho comprometera-se a elaborar um programa de orientação governativa e política e a entregá-lo a horas de poder ser lido no conselho de ministros que começava ao meio-dia de 14. “Trindade Coelho valeu-se da colaboração de Afonso Lucas e ambos se juntaram a José Pequito Rebelo em casa deste último na manhã desse dia. Chamado para ali insistentemente, a partir das oito horas, lá compareci [Av. António Augusto de Aguiar, n.º 134] com a pressa que pude, quando o trabalho ia prosseguindo com entusiasmo e esperança de se acabar a tempo, e em absoluto segredo, como fora prometido. “Em presença de três amigos competentes, a minha participação na redacção desse documento político, viria a ser muito desvaliosa e até desnecessária. Para levar essas laudas manuscritas ao General Gomes da Costa, à nossa vista estava esperando o secretário dele, Dr. José Maria da Silva Dias, aquele que depois em 1932, viria a ser assassinado vilmente em Évora, pelo crime de ser bom português./ “Os papéis chegaram antes da entrada para o conselho de ministros, mas sem que Gomes da Costa tivesse tempo de ler detidamente o seu conteúdo. (...) “O estudo e execução das muitas providências nele formuladas, seriam para discutir em outras sessões. Estavam indicadas as directrizes. / “Tão satisfeito saiu Gomes da Costa do conselho de ministros que ao secretário Silva Dias logo manifestou o intento de ir a casa de cada um de nós agradecer aquele alto serviço. / “Assim nasceu numa clara manhã de Junho, o desejado programa de 28 de Maio...” (ler 2002 - José Manuel Quintas, O Integralismo Lusitano perante a Salazarquia) .
- 1927-02-07 - Revolta militar contra a Ditadura Militar.
1929
- 1929-05-01 - Rolão Preto, "1 de Maio", Política, Lisboa, 1 de Maio de 1929 p. 3-4: "O erro fundamental de Marx, erro que viciou todas as suas previsões, está na sua concepção de propriedade. Julgar o valor da propriedade, não em função dos vários factores sociais, históricos e técnicos duma época económica, mas no seu sentido de imobilidade e no seu coeficiente fiscal, eis uma velha e absurda concepção que clama contra as suas determinantes modernas, crédito, cambio, tempo. / Partindo desta base grosseira e simplista, o marxismo na Rússia socializou toda a grande massa da propriedade capitalista, terra, minas, fábricas e... ficou na miséria."
- 1929-06-05 - "28 de Maio", Política, Lisboa, 5 de Junho de 1929, p. 2: "Que a causa da doença da Pátria era o regime parlamentar (passe o suave eufemismo) bem o mostrou compreender o exército, encerrando, à voz da Nação, o palco de S. Bento. Só porque o tempo apaga, às vezes cruelmente, a memória dos homens, é que a traços embora largos e fracos, evocámos um passado que esperamos não voltará, para honra e saúde da Pátria. Se o exército nacional consentisse em que se restaurasse o regime parlamentar, teria iludido a esperança que nele pôs a Nação numa hora de angústia, porque é uma verdade axiomática que à mesma causa correspondem invariavelmente os mesmos efeitos."
- 1930-03-02 - O Correio Paulistano publicou uma entrevista concedida por Hipólito Raposo a Raul Martins (correspondente em Portugal daquele diário) sob o título “O Integralismo Lusitano e a Ditadura”. Isolados, abandonados pelos discípulos, os integralistas faziam ali, por intermédio do Secretário da sua Junta Central, uma apreensiva leitura política acerca dos últimos desenvolvimentos da Ditadura Militar: “A Ditadura preocupou-se demasiadamente com o perigo monárquico, sem recear o perigo republicano, deixando-se condicionar pelas forças ocultas dos partidos a que pertenciam (e pertencem) a maior parte dos oficiais do exército e armada. (...) [Os Ministérios] têm sido recrutados quase todos nos quartéis e, na sua generalidade, nada mais levaram para o poder do que boa vontade e uma dourada ignorância dos assuntos de que iam ocupar-se”. Salvava-se a competência de Oliveira Salazar nas finanças, “que venceu a angústia e o pesadelo do «deficit»” - afirmava Hipólito Raposo - mas logo acrescentava: “é para recear, contudo, que o seu critério fiscal seja demasiado violento e obrigue o país a sacrifícios que estanquem as próprias fontes de riqueza, atingindo as raízes da produção”. Depois…depois a “solução política duradoura, definitiva, nacional” seria impossível de encontrar fora da monarquia.
- 1930-07-30 - Discurso de Oliveira Salazar na Sala do Risco, aceitando grosso modo a doutrina do Integralismo Lusitano, sem o Rei: descentralização, municipalismo, sindicalismo, corporativismo. D. Manuel II classificará de "perfeito" esse discurso em carta de Setembro de 1930 ao seu Lugar-Tenente, João de Azevedo Coutinho ("Rei morto, Rei posto - União Monárquica", Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses, Vol. I, Fasc. IX, Dezembro de 1932, p. 451).
- 1930-08-20 - Hipólito Raposo, no Diário de Lisboa, em 20 de Agosto de 1930, expressa esperança na acção de Oliveira Salazar. Repetida numa nota enviada à imprensa, em 27 de Agosto de 1930, na - qual, interpretando as palavras emanadas do Governo como um apelo de salvação pública, se decidia cooperar de novo com a Ditadura Militar. É nesse contexto que, sob o título “Formas e Reformas administrativas”, Hipólito Raposo surge a defender nas páginas do Diário de Notícias, em 11 de Setembro, em clara toada pedagógica, “a necessidade de refazer o município”. Hipólito Raposo tornava ali claro que durante o século XIX os legisladores liberais “ignoraram a verdadeira natureza do município, não aproveitando a lição de Herculano, de Henriques Nogueira, de Gama Barros”:“Como expressão de uma necessidade colectiva, económica e política, o município é um agregado anterior à lei escrita e existiu para Nação, antes que a Nação existisse para ele. Foi Nação e Estado para os nossos avós remotos, aparecendo-nos como um milagre do instinto político do Povo./ “Da sua origem e pelo destino que teve na vida nacional, claramente se verifica como a sua independência é justa e necessária e como foram violentamente ofensivas da própria natureza da instituição o Código e a Prática que, nos sucessivos abastardamentos eleiçoeiros do século XIX, o reduziram a feudo de cacique, ou a simples delegação do poder central. O município deveria governar-se e administrar-se por magistrados seus eleitos, competindo ao Estado intervir apenas para que a vida local não degenere em abusos e a coexistência dos interesses dos diversos agregados se mantenha em harmonia e equilíbrio para o bem geral./ “Mas não aconteceu assim no século passado, a que bem pode chamar-se o século do sufrágio universal, caracterizando-o inconfundivelmente, através dessa estupenda burla.” (…) Se governava o partido branco, brancas eram as Câmaras, se desfrutava o poder o partido preto, da mesma cor tinham de ser os vereadores. E até acontecia que, não querendo mudar-se os vereadores, bastava-lhe apenas adoptar a cor do governo, mandando subir ao ar girândolas de foguetes. / “Mas, se por força do acaso, de inépcia ou das influências, alguma Câmara não erguia o pendão do partido do Governo, mil pretextos se procuravam e adoptavam-se violências extremas para dissolver a corporação eleita do Povo, substituindo-a por uma comissão servil para a política reinante. /“Assim se chegou a extinguir a vida local nos seus mais belos estímulos e aspirações, desta sorte se obliterou o próprio espírito municipal.”/ “Hoje, não há que reformar o município, há que restaurá-lo inteiramente, reerguendo-o da raiz, para poder ser restabelecida a vida local em sua plena força e consciência. Para ninguém medianamente culto é novidade que no nosso país não tem havido municipalismo. Só ruínas e destroços, cobertos abundantemente de papéis e fórmulas secas.”
- 1931-02-15- Surge o jornal clandestino Avante!, do Partido Comunista Português.
- 1931-04 - Revolta na Madeira.
- 1931-05-11 - Em Madrid, grupos de incendiários começaram a queimar edifícios religiosos em Espanha, com inicio na Calle de la Flor, onde incendiaram a casa dos jesuítas e o templo de São Francisco de Borja. Nesse dia foram queimados treze edifícios em diferentes pontos da capital. Os incêndios dos edifícios de religiosos continuaram enquanto durou a República espanhola.
- 1931-06-29 - Perante a dissolução das associações católicas de jovens em Itália, o Papa Pio XI, através da encíclica Non abbiamo bisogno (Nós não precisamos, 29 de Junho de 1931) condenou o Fascismo.
- 1932-02-15- Surge o diário Revolução - diário académico nacionalista da tarde, editado por José de Almeida Carvalho, tendo como redactores, entre outros, António Pedro, António Lepierre Tinoco, Chaves de Almeida. Há dois colaboradores que não são estudantes: Alberto de Monsaraz e Rolão Preto, membros da Junta Central do Integralismo Lusitano.
- 1932 - Rolão Preto, "Cavalo de Tróia, Revolução, nº 11.
- 1932-03-14 - Revolução, nº 24. Mudança de formato.
- 1932-03-28 - o Governo tornou por fim público o seu projecto de Constituição política. No essencial, corresponde ao sistema híbrido do grupo da Seara Nova, com duas Câmaras - Câmara de Partidos Políticos e Câmara Corporativa.
- 1932-04 - (1932-1934 - Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses, revista) - "Não nos alegram as desventuras e as misérias, mas chegou a hora de celebrar a justificação com que sempre fulminámos os vícios e abusos do dinheiro na aliança dos plutocratas de todas as cores com a Democracia Política de todos os partidos. O século XX tem de repudiar uma herança maldita, esse brilho metálico de um falso progresso que foi crestando de aridez as almas, cobriu a terra de máquinas e espalhou a fome no mundo." ("Pola lei e Pola Grei", Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses, Vol. I, Fasc. I, Abril de 1932, pp.1-6.); nesse mês de Abril, o jornal Revolução suspende e promete reaparecer em Maio, sob a direcção de Rolão Preto.
- 1932 - Rolão Preto, "Todo o Poder aos Novos", Revolução, nº 41.
- 1932-05-28 - No 6º aniversário da eclosão do Movimento Militar de Braga, Rolão Preto assume a direcção do jornal Revolução - Diário Nacional-Sindicalista da Tarde, nº 65.
- 1932-05-30 - Heinrich Brunning, dirigente do ZENTRUM (Centro Católico alemão) é afastado do governo da Alemanha. De Junho a Dezembro a Alemanha será governada por um ministério de união nacional, com Von Pappen; a dissolução do Reichstag será em 4 de Junho e realizam-se depois eleições, ganhas pelos Nazis. Adolf Hitler não será chamado para a chefia do governo e serão realizadas novas eleições em Novembro. Em 30 de Janeiro de 1933, Hitler tornar-se-á Chanceler da Alemanha.
- 1932-05-31 - Alberto Monsaraz (sob o pseudónimo de Évora Macedo) celebra a demissão de Brunning, homem do "Centro Católico, untuoso" (Revolução, nº 68).
- 1932-06-01 - O jornal Revolução, nº 69, publica uma fotografia de Hitler e trechos escolhidos. Notícia: "Hitler marcha alegremente à conquista da Alemanha. Celebra-se o noivado. Está próximo o dia da boda. Vai consumar-se o casamento". (O tom é ligeiro, com uma ponta de ironia, mas a previsão foi certeira).
- 1932-06-06 - Revolução, nº 74, publica um extracto do Livro do Desassossego de Bernardo Soares (Fernando Pessoa). Entrevista com Hipólito Raposo, secretário do Integralismo Lusitano: na linguagem solta da entrevista, Hipólito Raposo retomava ali o tema da confusão dos poderes, precisando o alcance político daquela que seria afinal uma deliberada confusão:
“No relatório fala-se em poder executivo forte, em poder legislativo limitado; mas no trato da Constituição projectada não se estabelecem nem discriminam tais poderes, pois só de funções se trata: a função legislativa, a função judicial. Poder, propriamente dito, só o do Presidente da República que, eleito por sufrágio dos chefes de família, da assembleia nacional não aceita indicações políticas e que nem por ela nem por outra função pode ser substituído. Assim, a assembleia nacional, órgão do povo soberano, fica com menos faculdades do que as cortes anteriores a 1820, as quais podiam (e puderam) em determinados casos depor o Rei.”/ “Estabelece-se um presidencialismo, aparentemente moderado, mas (…) ao presidente pertence até a faculdade de determinar que qualquer assembleia futura tenha poderes constituintes fora dos prazos estabelecidos (art.os 134º-139º). Poderia dispor-se com mais coerência que a soberania (o poder) reside em a Nação e quem o personifica, unicamente, é o Chefe do Estado”.
“- Mas não há voto da assembleia nacional?” – perguntava o jornalista.
Hipólito Raposo respondia:
“ – As votações da assembleia nacional não constituem indicação política, como se deduz do projecto (art.º 111º); mas, como o voto da assembleia é indispensável para a feitura da lei, temos praticamente estabelecida a subordinação da função executiva à legislativa, e restaurada, de facto, a engrenagem parlamentar. Falo é claro, à luz da razão política, supondo que a assembleia seja eleita pelos chefes de família e não nomeada pelos chefes do governo. Neste último caso, tudo viria a passar-se em família… partidária. E aqui está como o símbolo egípcio se renova na eternidade: onde tudo começa, tudo acaba…”
A resposta de Hipólito Raposo não se ficava por ali, concluindo com uma objecção de fundo ao sistema do sufrágio universal na eleição do Chefe do Estado:
- “Quem poderá, conscientemente, escolher um pai de família, além da sua junta de freguesia ou do melhor companheiro do seu ofício?”.
O jornalista aproveitava o lance para perguntar:
“ – Aí está outro aspecto que, parece, lhes devia agradar – o da representação corporativa”.
Eis a resposta de Hipólito Raposo:
“ - Teoricamente, assim deveria ser. Mas em Portugal não há corporações do Trabalho; há pequenas assembleias partidárias, dentro de algumas profissões. Não é possível mesmo com a força de uma ditadura, organizar a representação do que não existe. Depois, a Câmara Corporativa não é componente da Assembleia Nacional. As Corporações da Inteligência e da Produção, nos seus diversos graus e grupos, não fazem parte do tecido vivo das actividades nacionais, não são orgânicas, nem mesmo teoricamente se consagram na Constituição.”
O projecto de Constituição foi submetido a plebiscito e aprovado sem qualquer tentativa de oposição, em 19 de Março de 1933. Serão de Hipólito Raposo as seguintes palavras, inscritas nas folhas do seu cadastro: “Pelo condicionamento de todos os poderes e plena disposição de todos os dinheiros públicos, a nova república constitucional ficaria a depender de um só homem e com ele havia de identificar-se nos anos futuros. Assim à falta de melhor designação adoptava para a denominar, o neologismo político – Salazarquia, poder que se exerceria à semelhança do caracol dentro da espiral ou do cágado dentro da concha…" - 1932-06-08 - Amadeu Maldonado, "Hitlerismo e Lusitanismo", Revolução, nº 75, Amadeu Maldonado identifica o jornal Revolução com o lusismo, repudiando o racismo do nazismo.
- 1932-06-10 - Rolão Preto, "A Nova Aliança", Revolução, nº 77. A Aliança entre operários e estudantes. Colocando-se numa perspectiva nacionalista, o avanço nazi na Alemanha é visto como positivo: havia uma revolução nacionalista em marcha.
- 1932-06-17 - Rolão Preto, "Mane Tacel Phares", Revolução, nº 83: "O Nacionalismo está às portas da Cidade! A Democracia está morta!"
- 1932-07 - Para a Junta Escolar de Coimbra do Integralismo Lusitano acabou de imprimir-se em Julho de 1932, o livro Para além do comunismo, de Francisco Rolão Preto, dedicado "Aos TENENTES, à sua mocidade heróica e ardente, que, por cima de todos os egoísmos, de todas as fraquezas e de todos os erros dos velhos, soube fazer o milagre do 28 de Maio e manter-lo pelo calor da sua esperança e pela firmeza das suas espadas." Na perspectiva de Rolão Preto, o pensamento socialista estava morto; o que tentava viver era a "ficção política que os especuladores do problema operário agitam ainda como uma bandeira de reivindicações legítimas, escondendo em verdade o móbil único que os guia: o assalto ao poder, para seu proveito pessoal, pela escada do proletariado". (p. 72). Rolão Preto apresenta neste livro as linhas gerais do que poderia ser uma nova idade social baseada no sindicato (p. 84). Em "quadros sucintos, (expõe) as fórmulas de organização económica que o Estado Corporativo preconiza e (que) têm em si a essência do verdadeiro Estado Integral." (pp. 88 e seguintes), terminado com uma afirmação de esperança: "A História ensina-nos o caminho. Homens livres que somos, livres de partidos, de clientelas, de absurdas fórmulas, o que há que possa impedir a nossa marcha livre para um destino melhor?".
- 1932-07-07 - Rolão Preto, "Acima de tudo a Tirania", Revolução, nº 100.
- 1932-07-09 - Rolão Preto, "A Caminho", Revolução, nº 102. "O caminho está largamente marcado e aberto para todos os nacionalismos europeus. Não descansemos nós na preparação mental e orgânica da marcha, que a nós compete."
- 1932-07-11 - Rolão Preto, "Brunning - Já ninguém hoje detém a marcha vitoriosa do nacionalismo", Revolução, nº 103: "Pobres Brunnings, pobres castelos que o bom senso está construindo na areia, na esperança de impedir com eles as vagas do nacionalismo que estão varrendo, de norte a sul, a velha terra da Europa".
- 1932-07-19 - Rolão Preto, "O Nacionalismo Sindical", Revolução, nº 110: "É preciso que os muito ricos o sejam um pouco menos, para que os muito pobres sejam menos pobres. Só assim se pode evitar a derrocada."
- 1932-07-23 - Revolução, nº 114: "A Itália organizou o sindicalismo nacional e salvou-se ou está em vias de se salvar; a Alemanha organizou o nazismo e está no bom caminho".
- 1932-07-25 - "Liberdade e Liberdades", Revolução, nº 115.
- 1932-07-28 - Revolução, nº 118, Rolão Preto interroga-se sobre uma possível restauração da Monarquia na Alemanha.
- 1932-08-01 - Revolução, nº 121, é publicada uma fotografia do filho do Kaiser a fazer um discurso de propaganda nazi. Este número traz um artigo de Rolão Preto sobre as eleições de 31 de Julho na Alemanha: os nazis tiveram 37% do eleitorado, mais de 13 milhões de votos e 230 lugares num parlamento de 608 lugares; tornava-se o maior partido alemão mas sem poder governar sozinho.
- 1932-08-05 - o jornal Revolução dá notícia do regresso de Afonso Lopes Vieira de uma viagem às províncias de África.
- 1932-08-11 - Rolão Preto, "A Marcha sobre Berlim?", Revolução, nº 130. "Com uma mão de ferro, temerosa e inexorável, a mão do nazismo vai-se acercando, numa fatalidade cada vez mais evidente, dos gorgomilos amaldiçoados da república alemã."
- 1932-08-18 - "A Verdade sobre o Movimento Nazista", Revolução, nº 136. O representante da imprensa alemã em Lisboa, W. K. Gussmann, depõe nas páginas do jornal.
- 1932-08-22 - Revolução, nº 139. Continua a entrevista com W. K. Gussmann, agora sobre política externa.
- 1932-09-01 - o jornal Revolução, nº 148, pede o Prémio Nobel da Literatura para Eugénio de Castro. Termina a entrevista com W. K. Gussmann.
- 1932-09 - "Res et Verba", Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses, Vol. I, Fasc. VI, pp. 335-336: Visão optimista, a respeito da evolução da Itália e da Alemanha. Em "Italia Renovata", a notícia da distribuição de "quinhentas granjas de 7 a 10 hectares, a outras tantas famílias de antigos combatentes, as quais foram talhadas na superfície livre das velhas Lagoas Pontinas, cujos pântanos, agora esgotados, deixam de ser culturas de anofeles, para se converterem em terras arável", é o ponto de partida para um rasgado elogio de Mussolini, dez anos após a sua tomada do poder. Em "Deutschland Uber Alles!" (p. 336) dá-se um quadro panorâmico de uma situação política que se interpreta do seguinte modo: os diferentes chefes, "os constitucionais, os nacionais socialistas, os militaristas e outros", pareciam estar "todos empenhados numa corrida de velocidade política, cuja vitória será daquele que primeiro abrir ao Imperador as portas de Berlim."
- 1923-11-06 - Nas eleições de 6 de Novembro, os Nazis perdem 2 milhões de votos e 34 lugares no parlamento, passando de 230 para 196 deputados.
- 1932-11-23 - Posse dos corpos directivos da União Nacional - Oliveira Salazar pronuncia o discurso "As Diferentes Forças Políticas e Face da Revolução Nacional", Discursos, I, pp, 157 ss.: adverte o Centro Católico de que se deverá converter "à acção social"; permanecer como organização política seria inconveniente para a marcha da Ditadura. O Centro Católico encerrou de facto após esta advertência do seu antigo dirigente.
- 1932-11- "Res et Verba", "Res et Verba", Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses, Vol. I, Fasc. VIII, pp. 446-447. Sob o título "Horizontes Lagos", comentando o último discurso de Salazar: "O Dr. Salazar não pode ter a compreensão do que seja a dor de uma inteligência, posta à prova da adversidade política. / Podia ser democrata e parlamentarista, a 27 de Maio de 1926. Anti-democrata e corporativista começaria a ser em 28, encontrando já o caminho aberto à sua acção e tornando-se assim o beneficiário do alheio esforço. / Ao nosso caso de consciência política consagrámos a mocidade, já distante, e por ele muitas vezes temos arriscado a vida. Há muito que o resolvemos sem ter de nos penitenciar... / O sr. Dr. Oliveira Salazar
- 1932-12-18 - Surge, em Faro, o semanário O Nacional-Sindicalista, sob a direcção de Rodrigo de Sousa Pinto, Henrique Brás Leote (editor), Eduardo Frias (chefe de redação), com colaboração de J. D. Garcia Domingues, Carmo Costa, Jorge de Abreu, Cabral Miranda, Luís Forjaz Trigueiros, Virgínia Vitorino, entre outros. Publicaram-se 24 números, até 11 de Junho de 1933.
- 1932-12 - "Rei morto, Rei posto - União Monárquica", Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses, Vol. I, Fasc. IX, Dezembro de 1932, p. 449-454; "Benvindos!", idem, p. 518 ["Vem chegando a Lisboa numerosos emigrados políticos que as lutas civis do Brasil obrigaram a refugiar-se em Portugal"]; "Salazarquia" , Idem, pp. 519-520.
- 1933 - "Não convém os mestres integralistas, porque falam sempre em Monarquia. Não convém pelo menos por enquanto"
- 1933-01 - Salazar e a sua época - Comentário às entrevistas do actual chefe de governo com o jornalista António Ferro. A vida sindical não se decreta.
- 1933-01-05 - Revolução, nº 254, 5 de Janeiro de 1933. O Integralismo Brasileiro (de Plínio Salgado, 1895-1975) é equivalente ao Integralismo Lusitano.
- 1933-01-06 - Rolão Preto - "Salazar e a Questão Social", Revolução, nº 255, 6 de Janeiro de 1933: "Salazar não está dentro da Revolução, não comunga dos seus ideais fundamentais".
- 1933-01-10 - Rolão Preto face ao Fascismo e ao Hitlerismo: REJEIÇÃO DA ESTATOLATRIA DO FASCISMO E DO NAZISMO, na linha da condenação do fascismo pelo Papa Pio XI (Encíclica Non abbiamo bisogno, 29 de Junho de 1931). "Existe alguma diferença entre o Nacional-Sindicalismo e o fascismo ou o hitlerismo? - foi a pergunta colocada a Rolão Preto pela agência United Press, em Janeiro de 1933. Eis a resposta: "São evidentemente movimentos similares, filhos da mesma inquieta hora contemporânea, das mesmas angustias sociais, das mesmas necessidades colectivas." E acrescenta: "O fascismo, o hitlerismo são totalitários divinizadores do Estado cesarista, nós outros pretendemos encontrar na tradição cristianíssima do Povo Português a fórmula que permita harmonizar a soberania indiscutível do Interesse Nacional com a nossa moral de homens livres, de vivos seres espirituais. Os cesarismos italiano e germânico são mais mecânicos, mais cruéis, mais materialistas. A bandeira nacional-sindicalista é rubra, como todos os estandartes revolucionários; mas sobre o vermelho da Revolução estampa-se e ergue-se, em fundo branco, a Cruz de Cristo, orientadora dos nossos destinos colectivos. Esta sobreposição de símbolos define clara e nitidamente os contornos espirituais do Nacional-Sindicalismo Português" (Revolução, nº 258, 10 de Janeiro de 1933).
- 1933-01-10 - Manuel Múrias, "António Sardinha - Mestre do Entusiasmo", Revolução, nº 258, 10 de Janeiro de 1933.
- 1933-01-15 - Realiza-se um almoço de camaradagem nacional-sindicalista no Cine-Teatro de Faro com cerca de 100 participantes, contando com a presença de Amaral Pyrrait, Centeno Castanho, Cabral Miranda, João Delfino, Maia Mendes, entre outros (O Nacional-Sindicalista, Faro, nº 5, 15 de Janeiro de 1933).
- 1933-01-23 - Decreto nº 22 151 cria a Polícia de Defesa Política e Social; em 29 de Agosto passará a PVDE - Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado (PVDE).
- 1933-01-28 - Demissão do general von Schleicher; dois dias depois, em 30 de Janeiro, Adolf Hitler sucedia-lhe como Chanceler da Alemanha.
- 1933-01-30 - Revolução, nº 275.
- 1933-01-30 - "Governo de concentração nacional na Alemanha": Hitler como chanceler e Papen como vice-chanceler. Cresce a esperança numa Restauração da Monarquia na Alemanha.
- 1933-02-01 - Rolão Preto, "Na Hora do Triunfo. Hitler", Revolução, nº 276: "Sem Hitler, a Alemanha estava hoje no caos, às portas do comunismo. Grande é o poder das ideias nacionalistas".
- 1933-02-04 - Surge o suplemento semanal do jornal Revolução, (do número 279) dirigido por Lepierre Tinoco: Revolução dos Trabalhadores. Manteve-se até 11 de Junho.
- 1933-02-18 - Banquete no Parque Eduardo VII, em Lisboa, reunindo cerca de 730 simpatizantes do MNS. Na mesa de honra, estão Álvaro de Sousa Rego, tenente Carvalho Nunes, José Cabral, Luís Pastor de Macedo, capitão Teófilo Duarte, , Mira da Silva, João Ameal, A. Pinto de Lemos, engenheiro Peres Durão, Sá Campos, Américo Cabral, Carvalho da Costa, Rui de Andrade, brigadeiro João de Almeida, Afonso Lucas, engenheiro Neves da Costa, professor Eusébio Tamagnini, Rui Vecchi, coronel Valdez de Passos e Sousa, coronel António Rodrigues Montês, António de Sousa Rego, António Pedro, capitão Crujeira de Carvalho, capitão Mário Pessoa, capitão David Neto, António Lepierre Tinoco. Discursaram Álvaro de Sousa Rego, Neves da Costa, Pinto de Lemos, António Quitério (pelos estudantes), António Pedro e Rolão Preto; nesse dia publicou-se o jornal Revolução, nº 291.
- 1933-02-20 - Revolução, nº 292, com a cobertura do banquete do Parque Eduardo VII. Rolão Preto disse: "Eu, que nunca pedi nada ao Dr. Oliveira Salazar, eu que nada lhe peço, eu que só apareceria distante do Dr. Oliveira Salazar com a cabeça bem erguida digo, a ele que me está ouvindo: Sr. Dr. Oliveira Salazar, oiça V. Exª. a alma nacional que vibra, escute os votos da mocidade portuguesa e, se quer, ALEA JACTA EST"
- 1933-02-24 - Rolão Preto, "Forças", Revolução, nº 296 - lançando a ideia de uma "batalha de conferências" a realizar pelo país.
- 1933-03-19 - O projecto de Constituição foi submetido a plebiscito e aprovado sem qualquer tentativa de oposição. As abstenções contaram como votos favoráveis.
- 1933-03-03 - A Censura suspende o jornal Revolução por uma semana, decisão inserida no jornal pelo major Salvação Barreto.
- 1933-03-21 - "Dia de Potsdam" - o retorno dos Hohenzollerns ao Reich parece iminente.
- 1933-03-26 - Rolão Preto, "Mortos de África, de pé!", Revolução, nº 315, pedindo uma manifestação contra um plano de anexação dos territórios ultramarinos de África (para o Governo de Salazar eram "Colónias" desde o Acto Colonial).
- 1933-03-27 - O governo não autorizou a manifestação pedida por Rolão Preto (Revolução, nº 316, 27-03-1933).
- 1933-03-05 - Na Alemanha, as eleições dão 44% dos votos a Hitler; no dia 24, o Reichstag deu-lhe plenos poderes; em 14 de Julho, o Partido Nazi tornar-se-á o partido único.
- 1933-03-23 - Revolução, nº 313, ostenta na primeira página, bem visível, VISADO PELA COMISSÃO DE CENSURA.
- 1933-04-11 - Pedro Teotónio Pereira, dissidente do Integralismo Lusitano, torna-se o primeiro titular da nova pasta das Corporações e Previdência do governo de Oliveira Salazar; o Decreto nº 22 469, de 11.4.1933, legisla sobre o funcionamento da Censura.
- 1933-04-19 - Revolução, nº 335, Viseu inaugura o Secretariado Distrital do MNS, com Vasco de Santa Rita (secretário), Francisco Moreira, Luís Vigoço Nunes, João Cabral e Olímpio Salada.
- 1933-04-25 - Revolução, nº 341, começa a publicar listas de adesões, que irão crescendo nos números seguintes.
- 1933-05-07 - Banquete no Palácio de Cristal, no Porto.
- 1933-05-09 - Hitler reune-se em Königsberg com o chefe do gabinete civil do Kaiser, comunicando-lhe que a restauração da monarquia seria o culminar da sua acção política e que só a Casa de Hohenzollern podia ser considerada como legítima (John C. G. Röhl, Wilhelm II: Into the Abyss of War and Exile, 1900-1941, p. 1252).
- 1933-05-11 - O Decreto nº 22 469, de 11 de Maio de 1933, oficializou a Censura à Imprensa, em exercício desde 1916.
- 1933-05-28 - Manifestação de cerca de 3000 adeptos nacional-sindicalistas uniformizados em Braga, no 7º aniversário do arranque do movimento militar chefiado pelo general Gomes da Costa; publica-se no Funchal O Ressurgimento - folheto de propaganda nacional-sindicalista do Secretariado da Madeira.
- 1933-05-29 - O jornal Revolução, nº 368, não hostiliza Salazar, reproduzindo o seu discurso em Lisboa, na véspera do "28 de Maio".
- 1933-05-31, O jornal Revolução, nº 370, com fotografia de Salazar. Notícia dos incidentes de Ermezinde - os nacional-sindicalistas vindos de Braga são atacados, havendo disparos de armas de fogo. Um estudante de Medicina, simpatizante do MNS, ficou ferido.
- 1933-06-03 - Carta enciclica Dilectissima Nobis, de Pio XI, sobre a injusta situação criada à Igreja Católica em Espanha pela Lei das Confissões e Congregações Religiosas - dissolução das ordens religiosas e nacionalização dos bens da Igreja.
- 1933-06-16 - O jornal Revolução, nº 383, publica uma página inteira com o "Mar Português", da Mensagem de Fernando Pessoa, apresentado por Augusto Ferreira Gomes.
- 1933-07 - Anunciada a DISSOLUÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DO INTEGRALISMO LUSITANO PARA INTEGRAR A CAUSA DE DOM DUARTE NUNO DE BRAGANÇA.
- 1933-07-05 - Rolão Preto é recebido no Palácio de Belém pelo presidente Carmona.
- 1933-07-07 - O jornal Revolução, nº 401, publica uma fotografia de Rolão Preto junto à porta do Palácio de Belém, onde este foi recebido pelo presidente Carmona em 5 de Julho. Ter-lhe-á sido prometido que todos os nacionalistas tinham lugar dentro do novo regime.
- 1933-07-12 - Revolução, nº 405, publicadas fotografias dos secretários nacionais-sindicalistas das três zonas geográficas e da secção jurídica: Augusto Pires de Lima (Norte), Eusébio Tamagnini (Centro), Alçada Padez (Sul), Cabral de Moncada (secção jurídica), em torno de Rolão Preto.
- 1933-07-16 - Conferência do capitão Correia de Campos, nacional-sindicalista, no Teatro São Carlos. Rolão Preto está entre a assistência e é aclamado, pronunciando um vibrante discurso - o seu último discurso enquanto chefe dos nacional-sindicalistas. No livro Para além da Revolução... a revolução (1940, pp. 126-127), José Plácido Machado Barbosa, reproduz palavras significativas: "pesam sobre nós as velhas teorias financeiras, os absurdos conceitos económicos, em nome dos quais o homem é escravo da Plutocracia, da Usura e do Estado. / A economia moderna tem de assentar sobre a Justiça, isto é sobre o Trabalho. / Todas as autoridades devem ser protegidas e reforçadas pela comunidade nacional. Assim o homem será livre dentro da solidariedade. A liberdade é essencial à marcha do mundo. / Por isso nós estamos para além do Comunismo, que é a escravidão do homem em proveito do indivíduo; para além do Fascismo que é a escravidão do homem em proveito do Império. / Nós, ao contrário, queremos o indivíduo no quadro da família, em proveito do homem, o indivíduo no quadro do sindicato em proveito e reforço do homem; o indivíduo no quadro da nação em proveito e garantia do homem. / Cada um desses quadros é um circulo de liberdade que protege o homem contra a vontade arbitrária de tiranos"
- 1933-07-24 - Revolução, nº 415 - "O Chefe", com grande fotografia do Dr. Rolão Preto na primeira página. O jornal é suspenso pelo novo Ministro do Interior, capitão Gomes Pereira, que substituiu Albino dos Reis. O jornal Revolução só voltará a reaparecer (nº 416) em 21 de Setembro.
- 1933-07 - "Res et Verba - Itália Nova", Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses, Vol. II, Fasc. IV, Julho de 1933, p. 242: sob o título "Itália Gloriosa", referindo-se à visita nesse mês de uma pequena esquadra italiana no Tejo: "O Integralismo Lusitano, sauda fervido corde, os triunfos dos irmãos latinos que a voz de Mussolini comanda, a caminho do Capitólio."
- 1933-08-29 - Decreto-Lei nº 22 992, criação da PVDE (POLÍCIA DE VIGILÂNCIA E DEFESA DO ESTADO).
- 1933-09-10 - Ratificação da Reichskonkordat (a concordata entre o Vaticano e a Alemanha, reconhecendo-se os direitos da Igreja Católica), assinada no dia 20 de Julho de 1933, pelo cardeal Eugenio Pacelli (será depois o Papa Pio XII) em nome do Papa Pio XI, e pelo vice chanceler Franz von Papen em nome do presidente Paul von Hindenburg e do governo alemão. Nesse mês seria publicado em "Res et Verba - Heil Hitler!", Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses, Vol. II, Fasc. VI, p. 380: "A Itália e a Alemanha são duas provas e dois exemplos que nos persuadem a entrar noutra idade, com outras fórmulas, valores novos e de novos, para que as gerontocracias político-militares, herdeiras do espírito do século passado, cedam o lugar e o destino a quem eles pertencem nos países que não se demitiram da sua esperança de vida e de ressurgimento." Adiante, sob o título "A Preço de sangue" escrevia-se que "A cruzada no nosso tempo consiste na ofensiva contra os inimigos e destruidores da civilização europeia que, sendo cristã na suas raízes e nos seus frutos, é a grande árvore espiritual, a cuja sombra podem acolher-se confiadamente os peregrinos desta vida./ A décima parte da população alemã, mais de seis milhões, obedecia a Moscovo, sob o influxo do oiro judaico. Com o advento das legiões de Hitler, os céus da Alemanha clareiam e a Europa civilizada, vive dias mais tranquilos para cá do muro dos peitos de aço que por agora conteve um diluvio de sangue e de fogo. (p. 384). O exemplo da Concordata com a Itália, não respeitada por Mussolini, de que resultou a sua ainda bem recente condenação do fascismo pelo Papa, não foi suficiente para incutir maior prudência entre os integralistas. No início deste ano, Rolão Preto marcara a distinção entre o seu nacionalismo e os nacionalismos italiano e alemão, é certo, mas havia ainda optimismo a respeito das "revoluções nacionalistas" na Europa. O Papa condenará o nazismo através da Mit brennender Sorge, em 14 de Março de 1937.
1933-09-23 - Revolução, nº 418 - o último número. - 1933-10-14 - A Alemanha de Adolf Hitler retira-se da Sociedade das Nações.
- 1933-10-16 - 1934-04-01 - Francisco Rolão Preto - El Movimiento Nacional-Sindicalista Portugués.
- 1933-11 - CISÃO NO MOVIMENTO NACIONAL-SINDICALISTA. No seu Congresso, reunido por ordem do Conselho Directivo, José Cabral e Luis Supico manifestam-se pela obediência ao governo; Rolão Preto e Alberto Monsaraz declaram a sua independência; Cabral de Moncada declara suspensa a sua actividade política.
1934 - O ANO DA OFENSIVA TOTALITÁRIA (na Alemanha e em Portugal).
- 1934-01 - O chanceler Adolf Hitler teria nomeado o príncipe Alexander Ferdinand como regente do Reich.
- 1934-01-13 - Discurso de Oliveira Salazar, "Problemas da Organização Corporativa" (Discursos, I, p. 293). Salazar condena a "plutocracia" como a "flor do mal do pior capitalismo".
- 1934-01-23 - O governo apresenta no Teatro São Carlos a Acção Escolar de Vanguarda, antecessora da Mocidade Portuguesa - os "camisas verdes".
- 1934-01-30 - Na Alemanha, H. Göring dissolve todas as organizações monárquicas, colocando um ponto final nas aspirações do Kaiser e dos monárquicos alemães. Em 2 de Abril, o Kaiser exclama numa carta para a sua irmã: "O nosso pobre país!!? - Deus nos ajude! - É o caos!" (John C. G. Röhl, Wilhelm II: Into the Abyss of War and Exile, 1900-1941, p. 1253)
- 1934-03-01 - Manuel Múrias lança o jornal A Revolução Nacional, em cisão com Rolão Preto e o MNS. Publicar-se-ão 146 números até ao dia 18 de Agosto de 1934.
- 1934-06-20 - Representação ao Presidente da República em Junho de 1934: faz-se um balanço da situação espiritual, política e económica do país, lembram-se as reivindicações do MNS e pede-se liberdade de organização. Alguns dias depois, Rolão Preto foi preso na sua casa na Beira e levado sob prisão para Lisboa, onde ficou incomunicável na Esquadra da Polícia para ser interrogado no dia seguinte.
- 1934-06-30 - "Noite das Facas Longas" na Alemanha; além de Röhm e do general von Schleicher e sua esposa, são assassinados muitos apoiantes da restauração da monarquia (Haran von Koenigswald, ed., Der Kaiser in Holland, II, p. 264 ss; John C. G. Röhl, Wilhelm II: Into the Abyss of War and Exile, 1900-1941, p. 1255).
- 1934-07-10 - Documento de protesto dirigido ao Presidente do Conselho de Ministros, doutor António de Oliveira Salazar.
- 1934-07-14 - Rolão Preto e Alberto de Monsaraz são levados para a fronteira com Espanha, onde são expulsos de Portugal às 2 horas da madrugada.
- 1934-07-29 - O chefe do governo Oliveira Salazar proíbe o Movimento Nacional-Sindicalista.
- 1934-08-04 - O jornal dos dissidentes do MNS, A Revolução Nacional de Manuel Múrias, publica uma entrevista com Oliveira Salazar, apresentando uma espécie de ultimato aos NS.
- 1934-08-06 - A Revolução Nacional destaca: "Os nacionais-sindicalistas respondem ao apelo de Salazar exprimindo a sua firme vontade de colaborar dentro da União Nacional no objectivo supremo de consumar e adequar a Revolução Nacional" - os trânsfugas do NS, reunidos em torno de Manuel Múrias, anunciam a sua adesão ao Estado Novo.
- 1934-08-08 - Manuel Múrias torna público que A Revolução Nacional "quer ser o órgão de todos os nacionalistas sinceramente, desinteressadamente empenhados na Revolução moral, política e social comandada por Salazar".
- 1934 -10 - António Ferro, do SPN, participa em Itália no IV Congresso Volta, congresso anual instituído pelo governo fascista, reunindo em torno de Mussolini homens da cultura e das ciências; foi acompanhado por uma delegação da AEV.
- 1934-10-30 - O Centro de Estudos Corporativos (CEP) tinha sido criado em Agosto, sob a presidência do subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social, Pedro Teotónio Pereira. Pela Portaria nº 7.909, de 30 de Outubro de 1934, passou a funcionar em colaboração directa com a Comissão Central e era de livre nomeação do Presidente desta. O CEP era dirigido por uma Comissão Orientadora composta de um Presidente, dois Vice-Presidentes e um número par de vogais, pertencendo a presidência ao Sub-Secretário de Estado das Corporações e Previdência Social. A Comissão Orientadora era nomeada para o mesmo quadriénio da Comissão Central. Competia ao Centro de Estudos Corporativos: fixar as directrizes da doutrinação económico-social do Estado Novo; fazer a educação corporativa dos filiados do partido único do regime, a União Nacional.
- 1934-12-24 - O Nacional-Sindicalismo após a Farsa Eleitoral.
- 1934-12 - António Eça de Queirós, do Secretariado de Propaganda Nacional, representa o governo de Oliveira Salazar no Congresso de Montreux dos Comitati d'Azione per l'Universalità di Roma (CAUR), espécie de "Internacional Fascista" criada pelo governo de Mussolini para coordenar a acção das organizações fascistas estrangeiras. Três governos enviaram representantes: Grécia, Lituânia e Portugal.
1935
- 1935-02-24 - Rolão Preto pronuncia um discurso num banquete de nacionalistas, ao retornar do exílio.
- 1935-04-29 - Estreia do filme Camicia Nera no Teatro São Luís com a presença do presidente Carmona, Oliveira Salazar, Mesquita Guimarães, vários ministros e duzentos Vanguardistas (AEV) uniformizados com as suas "camisas verdes".
- 1935-04 - Rolão Preto discursa no Porto e parte em viagem pelo continente de norte a sul.
- 1935-09-10 - Revolta de 10 de Setembro de 1935. Falha uma tentativa de derrube do regime do Estado Novo - o chamado "golpe do comandante Mendes Norton", que tentou apoderar-se do aviso "Bartolomeu Dias" fundeado no Tejo, e também a tentativa de levantamento do Destacamento Misto da Penha de França, Lisboa, pelo tenente-coronel Manuel Valente. Nas fantasias do Diário de Notícias, ter-se-ia tratado de um conluio entre "nacional-sindicalistas" e "comunistas", neutralizado pela PVDE. Visavam comprometer a revolta perante a "opinião nacionalista", mas os presos envolvidos invocaram o espirito revolucionário do 28 de Maio. O comandante (Capitão de Mar e Guerra) Mendes Norton foi detido e enviado para a prisão em Cabo Verde. Rolão Preto partiu para novo exílio em Espanha. A guerra civil em Espanha levou Rolão Preto a declarar "tréguas políticas" (Para além da Revolução... a Revolução, 1940, p. 129 ss).
- 1935-10-02 - Início da guerra entre a Itália fascista e a Etiópia, com a invasão italiana da Abissínia.
1960
1983
1987